
O programa do Seminário contou com a palestra de abertura ministrada pelo professor da UFRPE, Francisco Roberto Caporal com o tema Agroecologia: conceitos e princípios. Dando seqüência, teve a palestra com o produtor rural Francisco Quintela com o tema Preservação Ambiental e, um conjunto de oficinas ministradas por Leandro Benatto, Engenheiro Agrônomo UFRGS (biofertilizantes), Thércio Vieira, consultor SEBRAE/AL (Controle Alternativo de Pragas e Doenças), Francis Britsky (Suco de Luz do Sol), Cícero Adriano, UFAL/Arapiraca (Formação de Grupos Agroecológicos), Angerson Casado, Instituto Naturagro (Planejamento de Produção em Unidades PAIS). A palestra de encerramento do seminário foi ministrada pelo Engenheiro Agrônomo e Florestal Sebastião Pinheiro, NEA/UFRGS, com o tema: Agrotóxicos x Alimentação Orgânica.
Os principais tópicos discutidos durante o seminário foram a problemática do modelo majoritário da agricultura atual vigente, onde foi estudado e exposto pelos palestrantes os problemas ocasionados pelo uso desenfreado de agrotóxicos e adubos sintéticos que provocaram e provocam a degradação do solo; o envenenamento dos rios, plantas e animais; e o homem do campo e da cidade. Foram apresentados dados de pesquisas científicas que comprovam a relação direta entre o aumento do uso de agrotóxico e o aumento do número de pessoas com câncer. Foram apresentados resultados de pesquisas mostrando a diferença nutricional entre as plantas produzidas agroecologicamente e as plantas produzidas no modelo agrícola convencional.
A sustentabilidade ambiental nunca foi tão discutida e propagada como nos últimos anos. O termo sustentabilidade tornou-se politicamente correto, sendo incorporado na maioria das vezes de forma indevida , confundindo o consumidor e desgastando o debate. Vê-se grandes empresas transnacionais pregando a sustentabilidade, ao mesmo tempo que, dominam grandes nichos do mercado de agrotóxicos, adubos e sementes transgênicas. Esse modelo agroquímico, além de envenenar o solo e as plantas e destruir o meio ambiente, torna os agricultores dependentes de insumos e com isso acarretando na perda de sua autonomia. Alem de estar pautado na monocultura, com perda de biodiversidade e segurança alimentar.
O conceito de Desenvolvimento Sustentável criado pela Organização das Nações Unidas – ONU e usado a partir de 1987 com o título de Nosso Futuro Comum, atualmente não é mais suficiente para explicar e garantir a preservação do planeta. O congresso brasileiro está construindo um Novo Código Florestal e infelizmente no mesmo dia em que foi aprovada a primeira versão do Novo Código, os madeireiros do Pará mataram um casal de agricultores agroextrativistas e ambientalistas José Claudio e Maria do Espírito Santo. O novo Código Florestal não traz nenhum avanço para a natureza, apenas vai servir para anistiar os grandes produtores do agronegócio de seus crimes ambientais. Em nome dos pobres, o Deputado Aldo Rebelo, PC do B, juntamente com a bancada ruralista, fizeram esta aberração. Por isso, repudiamos este novo código florestal que está no congresso nacional.
O campo brasileiro passa por uma mudança muito profunda e a população rural jovem não quer mais viver no campo por causa de falta de perspectivas de um futuro melhor. O maior problema na zona rural do Brasil hoje é o envelhecimento do campesinato, por que seus filhos não querem mais trabalhar na agricultura. É de extrema importância que o governo crie programas voltados aos jovens rurais oportunizando trabalho, saúde, transporte, lazer e educação no campo, valorizando o campo e atraindo os jovens rurais a viverem no campo com dignidade e qualidade de vida. E assim, evitar o aumento da favelização nas grandes cidades, que causa o aumento de outros males comuns da zona urbana como crime e violência.
A discussão realizada durante os dois dias do seminário reforça a necessidade de um modelo de agricultura que preserve o meio ambiente e garanta a produção de alimento saudável de forma autônoma, sem a necessidade do uso de agrotóxicos, sem adubos importados e sem sementes patenteadas, principalmente as transgênicas. O Brasil é o consumidor de agrotóxico do mundo e importa cerca de 80% de insumos agrícolas sintéticos. É preciso mudar essa realizada. Nesse sentido, a agroecologia se apresenta como a ferramenta ideal para a garantia da sustentabilidade ambiental e da soberania alimentar do nosso povo. É necessário que as entidades presentes no seminário incentivem e ajudem a formar novos grupos de agroecologia na universidade, nos assentamentos de reforma agrária, nas comunidades rurais e nas entidades de assistência técnica e extensão rural. Como proposta de fortalecimento das instituições que trabalham com agroecologia e agricultura familiar surge a necessidade de uma articulação coletiva através da constituição de uma Rede de Agroecologia no Estado de Alagoas, articulada a Associação Brasileira de Agroecologia e a Rede Brasileira de Agroecologia.
A legislação dos produtos orgânicos e a necessidade de certificação foi um tema bastante debatido e que necessita urgentemente de aprofundamento e discussão, pois não temos certificadoras sociais em Alagoas, sendo muito caro ao produtor familiar pagar uma certificação por auditoria para empresas privadas. Surge a necessidade urgente de criarmos mecanismos de certificação participativa e para tanto é necessário que o MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, juntamente com a sociedade civil organizada, crie a comissão estadual de orgânicos em conformidade com a lei 10.831, de 23 de Dezembro de 2003.
O Estado brasileiro precisa cumprir com o seu papel e adotar mais políticas públicas voltadas para a pequena agricultura com outra lógica de produção. Os bancos oficiais precisam parar de tratar os projetos agroecológicos com a mesma lógica dos projetos convencionais. O governo federal tem que inverter a lógica dos créditos rurais, pois todos os anos o orçamento da agricultura familiar é pouco mais que um décimo do orçamento do agronegócio – que destrói a natureza e os seus filhos juntos.
Rio Largo, CECA/UFAL.
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